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Espaço Delas
“A Ballroom surge cumprindo esse papel: trazer destaque aos nossos corpos”
![](https://afrontosas.org.br/wp-content/uploads/2023/06/DSC_1259-683x1024.jpg)
Em conversa com o site Afrontosas, a artista Cosmus Mandacaru fala sobre o destaque da cena Ballroom em Recife e de suas experiências com o Vogue.
Texto: Ariel Lins/ Foto: Luara Guerra
O que a cena Ballroom em Recife representa? “A cena ballroom é um espaço muito importante, é aqui onde eu me sinto bem vinda, é aqui onde eu consigo mostrar o meu corpo, e tenho certeza que ele é bem vindo. Esse espaço faz com que muitas de nós se sintam acolhidas e tenhamos o destaque que não temos diariamente, não somos vistas na mídia. A ballroom ela surge cumprindo esse papel, de trazer destaque aos nossos corpos, trazer essa visibilidade que a gente tanto almeja”, afirma Cosmus Mandacaru em entrevista ao site Afrontosas.
Cantora, Dj, Performer e artista, nascida em Recife e membro da Casa Mandacaru, Cosmus ocupa um espaço em uma das cenas atuais mais efervescentes de Recife, o Vogue. A artista conta através de suas experiências como a cena ballroom tem ganhado destaque e sobre a resistência de um movimento que surgiu em 1960, popularizado vinte anos depois, e que hoje atravessa as diversas dimensões da arte. Com apenas 21 anos, a artista realiza um mergulho imersivo em um universo onde pessoas LGBTQIA+ constroem narrativas e fazem da arte um espaço acolhedor e político.
A cena ballroom em Recife reúne uma infinitude de referências, desde o surgimento das primeiras houses — coletivos hierarquizados por mother (mães) e fathers (pais) — as Balls (que são bailes onde as casas competem com outras por categorias). Nesta entrevista, conversamos sobre a subjetividade da artista e o fomento do vogue na cultura recifense, dentre outros temas.
AFRONTOSAS – Em princípio, gostaria que você comentasse um pouco sobre como você chegou ao Vogue?
COSMUS MANDACARU – Eu tive esse acesso acredito que a 6 anos atrás, junto com a minha irmã Gaia Mandacaru, onde desde o ensino fundamental a gente começou a treinar, não sabíamos que existia uma cena ativa aqui, por ser um movimento muito underground, mas a gente treinava até que chegou um ponto que ouvimos falar sobre uma ball que acontecia no Museu da Abolição. Fomos e lá a gente caiu na real que realmente existia uma cena em atividade aqui, e começamos a consumir essa cena, fomos entrando nos grupos e buscando o máximo de pessoas dessa bolha até que a gente chegou na Lady Desejo que mora exatamente no mesmo local que a gente. Começamos a treinar juntas, trocar essa experiência, como todos nós já treinávamos a um tempo então super fluiu, foi uma troca de sabedoria, a Desejo já fazia parte da Casa Mandacaru até que surgiu o convite pela própria Desejo de entrar na casa, e nisso desde então estou fazendo parte da cena. Hoje, por exemplo, eu estou fazendo Chanter da ball, que é ficar no microfone, apresentar a ball. Mas esse processo de estar inclusa na cena é bem recente, faz uns 7 meses. Eu chego na casa em 2023, mas desde 2015 a gente já vinha pesquisando sobre a ballroom, já tenho essa intimidade com o movimento há bastante tempo.
A – Queria que você falasse um pouco da casa Mandacaru
CM – A Casa Mandacaru surge da necessidade de trazer a cultura ballroom para o nosso Estado. Então com isso temos a pioneira Hany Hilston que veio desenvolvendo esse trabalho junto com a galera da Vogue for Recife, que são coletivos de três casas que são a House of China, House of Kunoichis e House of Guerreiras que é a casa do pioneiro Edson Vogue. Então eles foram fomentando a cultura aqui até que chegou um determinado momento em que Hany seguiu e criou a Casa Mandacaru e desde então ela e outros membros das casas vem desenvolvendo a cena ballroom aqui em Recife.
A – Dentro das casas, existe alguma hierarquia que denomina algumas funções para alguns membros da casa? Como funciona essa questão?
CM – Existe uma certa hierarquia digamos assim dentro da comunidade, é assim que as coisas funcionam. Então existem as lideranças, tem pessoas mais antigas, mas são todas gente como a gente. Gente com a mesma vivência, com a mesma ideia de certa forma, então não é algo que entra em conflito de gerações sabe, por que no final do dia está todo mundo lá para fazer a mesma coisa, é somar junto, é caminhar, é batalhar, essa energia de irmandade. Não acredito que tenha uma soberania muito obsessiva, é sobre irmandade mesmo independente de que posição você esteja. Óbvio que é importante também, existem relações humanas e é nesse ponto que todo mundo se cruza e se encontra.
A – Essa chegada da cena ballroom em Recife é bem recente, como você enxerga essa efervescência da cena?
CM – A cena de Recife, não é uma cena muito grande ainda, a gente está nesse processo ainda de desenvolvimento, porém ao mesmo tempo é uma cena que fomenta muito a cultura, a gente sempre tem Balls durante os meses e estamos sempre o tempo todo tentando elevar mesmo esse conhecimento da cultura ballroom e passar para outras pessoas. Então a gente tem os treinos durante quinta, sábado e domingo no Cais do Sertão, Museu da Abolição e na Praça da Várzea. Então sempre buscamos fomentar a cultura apesar da nossa cena não ser tão grande.
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Chegamos! Para provocar, desafiar e mover a estrutural desigualdade de gênero que segue tentando nos silenciar e invisibilizar. Afrontosas, reagimos! Não podemos permitir que se perpetuem as tantas violências que nos atingem desde muito cedo: nós meninas, jovens e mulheres. Afrontamos o racismo, a pobreza, o machismo, a intolerância religiosa, a discriminação de orientação sexual, a violência e o abuso sexual.
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