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Projeto “Na Trilha da Educação” realiza formação com pesquisadoras

| 25 de fevereiro de 2022

Ilustração: Alcione Ferreira/Cendhec

Ouvir meninas da rede pública de ensino para entender suas realidades, dificuldades e anseios. Esse é o principal objetivo de uma pesquisa desenvolvida pelo projeto “Na Trilha da Educação: Gênero e Políticas públicas para meninas”, que conta com o apoio do Fundo Malala. Em fase de elaboração, o instrumento vem sendo construído por uma equipe interdisciplinar que atua no Centro Dom Helder Câmara (Cendhec) e será aplicada por um grupo de pesquisadoras que receberam uma formação antes de acessarem as escolas das redes de Educação de Camaragibe, Recife e Igarassu. 

A pesquisa é uma das ações do projeto Na Trilha, que busca incidir nas políticas públicas de redes municipais do Ensino Fundamental 2 e, assim, ajudar a reduzir a desigualdade de gênero, que afeta a permanência de meninas de 12 a 14 anos na escola, principalmente.  Além das estudantes, serão ouvidos profissionais que atuam nas escolas públicas das três cidades graças a uma articulação com as gestões municipais.

“A pesquisa é o aparato de conhecimento sobre a vida das meninas dentro do ambiente escolar, que possibilita às gestões públicas reflexões norteadoras para a construção de políticas de educação visando a qualidade de vida dessas meninas, levando  sempre em consideração seus cotidianos e principais necessidades”, explica a coordenadora do projeto, Alcione Ferreira. Para ela, a escola é um ambiente fundamental para promover transformação social. “Não há como pensarmos uma sociedade justa e democrática sem igualdade de gênero, raça, classe social, respeito às diversidades e pluralidade de existências”, reconhece.

Antes de levar a pesquisa para campo, o projeto realizou uma formação com as profissionais que vão atuar na escuta das estudantes e professoras (es). Durante duas manhãs, de forma remota, elas tiveram acesso aos principais conceitos e diretrizes que fundamentam o questionário de perguntas, que vai investigar, principalmente, a percepção das meninas sobre o cotidiano escolar. O encontro contou com a participação de Kátia Pintor, coordenadora do núcleo da criança e adolescente do Cendhec e Tercina Virgulino, PHD em Sociologia e representante da Método, empresa responsável pela aplicação da pesquisa em campo.

Questões em torno de temas como preconceito, machismo, educação sexual, relação na escola e familiar, além do impacto da pandemia na aprendizagem estão entre os tópicos inseridos no questionário, que foi apresentado às pesquisadoras. Elas aprenderam mais sobre temas como gênero, identidade de gênero, raça, orientação sexual e direitos das crianças e adolescentes. Também foram repassadas orientações, compiladas em um caderno, que foi enviado às pesquisadoras, sobre a abordagem em campo para a construção de um ambiente acolhedor e seguro para as entrevistadas. 

Articuladora do Fundo Malala em Pernambuco, Paula Ferreira, que também atua como pedagoga no Cendhec, diz que a pesquisa vai proporcionar olhar de mais perto para a realidade das meninas e entender como as violências e desigualdades de gênero se apresentam no ambiente da escola. “Esse é um momento muito esperado pela equipe. A gente sabe que a pesquisa não é o fim, ela é um meio pra gente discutir políticas públicas para meninas”. 

A ativista explica que a pesquisa está em fase de experimentação, a partir de um instrumento que vai oferecer indícios sobre como as desigualdades afetam o ambiente escolar e a vida das estudantes. “É um caminho para entender os impactos dos problemas na permanência das meninas na escola e que nos ajuda a dialogar com o Executivo, Legislativo e toda a sociedade a partir dos dados obtidos”. 

Metodologia

A pesquisa contempla tanto a abordagem qualitativa, no intuito de compreender as complexidades das desigualdades de gênero nas escolas, quanto a abordagem quantitativa, para tentar visibilizar os números que expressam essa desigualdade. Foi concebida e conceituada a partir do reconhecimento de que a desigualdade de gênero, que é estrutural e estruturante, impactam o acesso, permanência e qualidade da educação de meninas (cisgênero e transgênero) que frequentam o ensino público.

Uma das integrantes da equipe do projeto “Na trilha da Educação”, a cientista social Fernanda Meira, explica mais sobre os objetivos da pesquisa. “Ela está respaldada no diálogo e na influência junto às instituições e atores políticos que podem reverter o problema por meio de políticas públicas voltadas a enfrentar as desigualdades de gênero nas escolas”. Serão ouvidas meninas de 12 a 14 anos matriculadas no Fundamental 2 das redes públicas dos 3 municípios, professoras/es, gestoras/es desta mesma rede, assim como membros dos conselhos escolares, além de meninas/adolescentes/jovens que tiveram que deixar a escola no Fundamental 2.

O estudo deve abarcar uma sólida reflexão sobre desigualdades de gênero considerando classe social, raça e território como recortes que agravam desigualdades. Em sua abordagem conceitual e prático-metodológica, o questionário está referenciado pelas teorias feministas dos campos da educação, políticas públicas, direitos humanos, direitos de crianças e adolescentes.

“Estamos no início da coleta dos dados da etapa quantitativa. É um momento crucial, porque é quando a pesquisa deixa de ser um projeto e tudo o que desenhamos e pensamos para nossa investigação vai ser aplicado. Por isso, começamos com pré-teste dos instrumentos de coleta, para que ajustemos à realidade que o campo pode nos trazer. Estamos muito entusiasmadas e numa expectativa enorme. A nosso favor, temos a boa receptividade das gestões dos municípios e suas escolas participantes, assim como uma excelente equipe de pesquisadoras”, conclui Fernanda Meira.

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