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Pandemia e Educação: Desafios da volta às aulas

| 10 de fevereiro de 2022
Em 2022, avanço da Covid-19 atrasa o ano letivo, mas gestões optam por retomar aulas presenciais na rede pública de ensino

Texto: Lenne Ferreira | Ilustração: Alcione Ferreira (Cendhec)

Tradicionalmente, em todo início de fevereiro, o vazio das salas e corredores escolares voltam a ser preenchidos pela movimentação dos estudantes. Há dois anos, no entanto, esse roteiro mudou. O surgimento da Covid-19 alterou a rotina do ano letivo não só em Pernambuco como no resto do país. Mesmo após a chegada da vacina, que proporcionou a retomada de algumas atividades presenciais, o aumento dos casos nos primeiros dois meses de 2022 reacendeu o alerta da Saúde pública e impôs novos desafios ao setor da Educação no Brasil. 

Em Pernambuco, os números mostram que o controle da pandemia sofreu retrocessos significativos. Até a última semana, 85% dos leitos de UTI voltaram a ser ocupados por pessoas infectadas pela Covid-19 com problemas respiratórios graves. Com 16.361.558 doses de vacinas aplicadas, Pernambuco iniciou a campanha de imunização no dia 18 de janeiro de 2021. Atualmente, cerca de 7 mil pernambucanos (74,87%) já completaram seus esquemas vacinais.

Apesar das campanhas e do aumento da oferta de doses imunizantes, parte da população ainda não foi vacinada, especialmente crianças e adolescentes. Este último grupo teve o calendário de vacinação retardado por demora do repasse das doses pelo governo federal. Com as festas de fim de ano e o período das férias, quando houve maior aglomeração de pessoas, além de novas variantes circulando, a exemplo do Ômicron, a crise sanitária ganhou mais evidência e fez novas vítimas fatais em todo o Estado, o que impactou diretamente no calendário do ano letivo.

O crescimento do número de infectados voltou a ser motivo de preocupação para a dona de casa Janeide Pereira da Silva, de 46 anos. Moradora no Barro, Zona Oeste do Recife, ela tem um filho de 15 anos, que acabou de iniciar as aulas presenciais no colégio Castelo Branco, em Tejipió. Apesar de achar saudável o retorno para a escola, ela está apreensiva quanto a saúde do menino, que tem problemas respiratórios e faz parte do grupo de risco.

“Tenho muito receio de contaminação na escola porque ele vai estar convivendo com pessoas de vários lugares diferentes. Mesmo que use máscara na escola, o estudante pode chegar lá com Covid e estar sem sintomas”, reflete Janeide, mãe de estudante

Durante o período de aula remota, em 2021, Janeide sentiu falta de um maior acompanhamento por parte da escola. “Eu acho melhor presencial porque em casa tem várias distrações e a convivência com os professoras (es) melhora o aprendizado. Eu tinha que ficar no pé para ele fazer as atividades, mas às vezes eu não tinha nem tempo”, conta ela, que faz um curso de qualificação profissional para tentar se recolocar no mercado de trabalho já que, depois da maternidade, precisou se dedicar integralmente à casa e filhos.

Para minimizar os riscos que preocupam pais, mães e cuidadoras e cuidadores, o cronograma de volta às aulas foi alterado em municípios como Igarassu, Recife e Camaragibe. Além da mudança do calendário, outras medidas têm sido implementadas pelas secretarias de Educação no sentido de oferecer maior proteção para estudantes e profissionais que passam à convivência presencial depois de dois anos de ensino remoto e híbrido (presencial e remoto). 

Com uma rede composta por 28 unidades de ensino, a cidade de Camaragibe, a oeste da capital pernambucana, seguiu a recomendação do Comitê de Combate à COVID-19 e decidiu alterar a data de retorno às aulas para a maior parte dos 10 mil estudantes da rede. Os estudantes dos anos iniciais e Educação Infantil vão estudar de forma remota até o início de março. Já os matriculados do Ensino Fundamental, dos anos finais, do 6º ao 9º ano, da Escola São José, em Vera Cruz (Aldeia), já iniciaram as aulas presenciais no último dia 07 de fevereiro.

“Nosso sentimento é de frustração. Estávamos preparados para a volta presencial com toda a rede, mas com o aumento dos casos, achamos melhor adiar um pouco o modo presencial para os anos iniciais e Educação Infantil. Os anos finais do Ensino Fundamental, que estão mais vacinados, seguem no presencial”, explica o secretário de Educação Mauro Silva, que justifica: “Os pequenos, que estão sendo imunizados neste momento, só voltam às escolas em março para estarem protegidos”. 

Secretário de Educação de Camaragibe, Mauro Silva defende que a imunização das crianças seja priorizada

Para Mauro, apesar das dificuldades dos últimos dois anos, o modelo adotado pela gestão municipal foi eficiente no processo de aprendizagem dos estudantes mais novos. Assim como ocorreu em períodos de educação remota em 2021, este ano, os professoras (es) vão lançar não dos almanaques do Programa Criança Alfabetizada, que oferece atividades lúdicas sobre diversas disciplinas e áreas de conhecimento. “A rede tem usado aplicativos como Whatsapp e também disponibilizado atividades impressas para estudantes que não têm acesso à internet, além de fazer o acompanhamento junto à família”, ressalta o secretário. 

Em Igarassu, o adiamento do ano letivo foi ainda maior. “Tivemos que adiar o início das aulas presenciais, que seria 14 d e fevereiro, para dia 03 de março. Mas garantindo a volta presencial e reorganizando o calendário para cumprir os 200 dias letivos”, explica Andreika Asseker, secretária de Educação do município. Para coibir o avanço da Covid-19 no ambiente escolar, a gestão providenciou máscaras para os estudantes e EPIs para professoras (es) e funcionárias (os). O distanciamento entre bancas também será garantido dentro das salas de aula, material de limpeza como álcool, álcool gel e sabão líquido, além de termômetro para aferir a temperatura dos estudantes. 

Incentivar a vacinação dentro das escolas é outra medida da administração municipal. “Estamos levando a vacinação para dentro das nossas escolas. Quando os pais levam os estudantes para receberem as fardas e materiais escolares a equipe da saúde aproveita para aplicar a vacina. Além disso, as equipes escolares estão fazendo o levantamento dos estudantes que ainda não se vacinaram e realizam uma conversa para convencimento”, pontua Andreika. 

Para Andreika, os dois últimos anos serviram de aprendizagem para a rede atuar de forma mais eficiente

Para a secretária, os desafios vencidos nos últimos dois anos, serviu de lição para as escolas aprenderem a lidar com a pandemia no âmbito da educação sem prejudicar ainda mais o processo de aprendizagem dos estudantes. “Já aprendemos bastante sobre o vírus e a forma de proteção, com isso esperamos voltar presencialmente as aulas, garantir a aprendizagem dos nossos estudantes e continuar vivendo os nossos projetos que são ferramentas de transformação de vidas”, afirma.

Recife aposta em retorno gradativo

Com a maior rede de educação do Estado, a capital pernambucana iniciou o planejamento para o retorno 100% presencial em 2022 ainda em 2021. Composta por 335 unidades de ensino, a cidade do Recife construiu um protocolo seguindo as determinações das autoridades de saúde. “Seguindo todas as medidas orientadas, equipamos as escolas com pias na entrada com sabão líquido, papel toalha, álcool em gel, distribuição de máscaras. Totem com álcool em gel também foi instalado, termômetro na entrada para medição da temperatura. Também preparamos a construção de um planejamento estratégico de organização escolar junto aos gestores, que está sendo colocado em prática nas unidades de ensino”, explica Gleibson Cavalcanti, Secretário Executivo de Gestão da Rede.

De acordo com o secretário explica que, devido à incidência de novos casos de Covid-19, foi necessário revisitar o planejamento para repensar as estratégias que já haviam sido traçadas. “Durante o mês de janeiro, acompanhamos os dados da Saúde e aproveitamos para avaliar quais escolas precisavam de reposição dos equipamentos, novas máscaras e montamos um novo cronograma de retomada”, conta. A partir de diálogos com os agentes que compõem a rede de educação municipal, o início das aulas ficou para 04 de fevereiro, mas só para 22 mil estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e de correção de fluxo para jovens e adultos (Educação para Jovens e Adultos).

Outros cerca de 75 mil estudantes só retornam à sala de aula a partir do dia 14 de fevereiro. Nesse grupo estão incluídos, o Ensino Fundamental Anos Iniciais e a Educação Infantil (incluindo creches). “A opção é da família encaminhar o filho para a escola ou não e também temos um trabalho pensado para esse público, que pode ficar remoto. Independente de estar vacinado ou não, a orientação do ministério é de que o estudante tem o direito  de acessar a escola, que é um dos espaços mais seguros no que diz respeito à transmissão da Covid-19. É onde ele estará mais protegido, pois a escola disciplina e cumpre os protocolos”.

Para os estudantes que ainda não se sentem seguros em retornar à aula presencial, a gestão segue utilizando a Plataforma Educa Recife, que pode ser acessada por meio de aparelhos como celular a partir da utilização do pacote de dados disponibilizado para professoras (es) e estudantes. A transmissão das aulas ocorre ao vivo todos os dias e também em três canais da TV aberta. A plataforma mantém gravadas todas as aulas e materiais pedagógicos, que também ficam disponibilizados no canal do YouTube da Secretaria de Educação.

Atualmente, a rede municipal conta com cerca de 5.500 professoras (es).  Embora não haja números oficiais, alguns profissionais deste contingente estão impossibilitados de voltar à ativa por terem sido acometidos pelo vírus da Covid-19 ou suas variantes. Esse também foi um dos fatores que influenciou na alteração do calendário das aulas nas redes do Recife, Igarassu e Camaragibe.

“ Precisamos do apoio de todos e todas nesse momento de retomada”, acredita Walquíria Santos, gestora da Escola Paulo Guerra

Na primeira reunião com pais, mães e responsáveis pelos estudantes matriculados na Escola Senador Paulo Pessoa Guerra, em Tejipió, que voltou presencialmente no último dia 3 de fevereiro, parte do corpo discente não compareceu à apresentação da equipe por motivo de adoecimento. Na entrada do colégio, álcool para higienização do público e exigência do uso de máscara indicavam o cumprimento do protocolo determinado pela Secretaria de Saúde do Estado. A diretora Walquíria Santos, que acabou de assumir o comando da gestão da escola, fez questão de conscientizar os familiares dos estudantes sobre a obrigatoriedade do uso das máscaras. “Nos primeiros dias de aula, alguns estudantes foram vistos sem máscara, mas os professoras (es) estão sendo orientados a cobrar e precisamos que a família nos ajude nessa tarefa”, pontuou. 

Seguindo as diretrizes da Secretaria de Educação, a escola recomendou a atenção dos responsáveis com os estudantes para que estes não frequentem a escola caso apresentem sintomas de gripe. “É recomendado que fiquem em casa cumprindo a quarentena para evitar que outros estudantes sejam contaminados”, sugeriu Walquíria. Além de explicar as normas da escola, a gestora fez questão de enfatizar o quanto o momento é desafiador e precisa contar com a articulação de toda comunidade escolar da qual pais, mães e cuidadores possuem papéis fundamentais. “Nossos jovens passaram muito tempo confinados, sem interagir uns com os outros.  Precisamos do apoio de todos e todas nesse momento de retomada”. 

Diante do aumento do avanço da Covid-19, que afetou a saúde de profissionais da educação, o Sindicato dos Professores de Pernambuco se posiciona contra o retorno das aulas presenciais. “Estamos em uma realidade preocupante e perigosa, diante do fato de muitos professores e professoras estarem afastados por acometimento de sintomas gripais, assim como contaminados pelo próprio coronavírus, com escolas com aulas suspensas devido aos surtos e por falta de servidores com saúde”, alegam em nota publicada no último dia 3 de fevereiro.
Leia o documento na íntegra: 

 

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