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O país da misoginia: 84,5% da população brasileira tem algum tipo de preconceito contra mulheres

| 14 de junho de 2023

Arte e texto: Alcione Ferreira

Nada de novo no front ou: ainda há um longo e tortuoso caminho a percorrer para erradicar o preconceito com viés sexista no mundo. É o que aponta o novo relatório da ONU através dos dados do PNUD no Índice de Normas Sociais de Gênero (GSNI – sigla em inglês) que ouviu 80 países, o que representa mais de 85% da população global, incluindo o Brasil. O estudo utilizou quatro tipos de dimensões para aferição de preconceitos de gênero relacionados às mulheres: integridade física, política, econômica e educacional. No total 90% dos países consultados tem discriminação contra mulheres em pelo menos uma das dimensões citadas.

No caso específico do Brasil o percentual geral de preconceitos contra mulheres, segundo os dados apresentados no índice pelo PNUD, é bastante elevado: 84,5%, número muito próximo da pontuação total mundial trazida nos resultados. Entre os quatro aspectos analisados no país o mais alarmante foi em relação à dimensão de integridade física, onde são avaliadas violências de caráter íntimo e as ligadas à decisão sobre maternidade: pelo menos 75,69% da população brasileira apontou preconceitos nestes dois indicadores. Importante ressaltar que o Brasil ocupa o 5° lugar no ranking mundial de feminicídios segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e tem uma vítima de violência doméstica a cada quatro horas, segundo relatório da Rede de Observatórios da Segurança.

O Índice de Normas Sociais de Gênero do PNUD também revelou que no Brasil 39,91% das pessoas tem discriminação contra mulheres na ocupação de cargos políticos. Já 31,06% acreditam que homens devem ter mais cargos de liderança que mulheres. Em relação à educação, 9,75% afirmaram que a universidade é um lugar mais adequado para homens que para mulheres. Apesar da taxa sobre preconceitos de gênero no aspecto educacional mostrar-se bem menor em relação aos demais, no Brasil é fundamental pensar a educação como elemento chave para transformação da sociedade que hoje acumula em nível global e local números elevados em relação à discriminação contra mulheres. Em 2022 o Cendhec realizou pesquisa sobre as desigualdades de gênero na educação pública e como estas impactam a vida de meninas e jovens mulheres nas cidades de Recife, Camaragibe e Igarassu. O estudo apontou que 94% das adolescentes acham importante discutir direitos de meninas e meninos na escola, além disso, 59% não sabem o que significa desigualdades de gênero e 70% afirmaram que professoras/es não abordam a temática sobre gênero nas disciplinas.

Ao final o relatório da ONU identifica e recomenda que as  normas sociais sejam abordadas a partir da educação para mudar ideias e padrões enraizados de misoginia , reconhecendo o valor e potencial das mulheres em qualquer um dos aspectos sociais, econômicos, educacionais e políticos, independente de culturas e modelos de nação, com uma maior participação feminina nas tomadas de decisão e representação como lideranças políticas. “Normas sociais que prejudicam os direitos das mulheres também são prejudiciais para a sociedade de forma mais ampla, prejudicando a expansão do desenvolvimento humano. Na verdade, a falta de progresso nas normas sociais de gênero está ocorrendo em meio a uma crise de desenvolvimento humano: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global diminuiu em 2020 pela primeira vez na história – e novamente no ano seguinte. Todos têm a ganhar ao garantir liberdade e autonomia para as mulheres”, defende o chefe do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD global, Pedro Conceição.

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