Texto: Lenne Ferreira | Imagem: Divulgação
As tranças longas e esverdeadas são elementos que marcam a performance da b-girl San quando ela desenvolve as acrobacias características do Breaking. Aos 25 anos, a moradora da Iputinga, Zona Oeste do Recife, almeja chegar muito longe com o compasso das batidas de um gênero que ela teve contato pela primeira vez em 2010, por meio de um projeto escolar. Desde então, a dança, que é um dos fundamentos do movimento Hip Hop, virou companheira inseparável e sua ferramenta de elevação de autoestima e autoconhecimento.
Criada por afro americanos, latinos e imigrantes que viviam nos Estados Unidos, o Breaking nasceu no bairro do Bronx, na cidade de Nova York, e se ramificou pelo mundo inteiro através de clipes e filmes na década de 70. Os dançarinos são chamados de B.boys e B.girls e os movimentos envolvem manobras acrobáticas conforme as batidas da música, que “duelam” em batalhas e rachas que acontecem de forma individual ou em grupo.
Em Pernambuco, nomes como San ajudam a manter viva uma cultura que foi responsável pelo empoderamento de jovens negros dos guetos de todo o mundo. “A dança tem muita influência na minha vida. Para mim, é uma forma de comunicação, uma arte e uma escola, além de um estilo de vida”, conta ela, que já participou de diversos campeonatos de pequeno, médio e grande porte. “É uma dança diferente, difícil, tem que ter resistência porque o Breaking exige muito isso da gente”, comenta a artista.
A trajetória da dançarina, no entanto, tropeçou em alguns percalços que são comuns às b-girls dessa e de gerações passadas. San confessa que as principais dificuldades enfrentadas pelas mulheres dentro do movimento têm origem no machismo e sexismo da sociedade, que perpassa a história de mulheres dos mais diversos campos de atuação. “A família tem preconceito porque diz que a dança é só para homens. Também tem o machismo dentro do próprio movimento. Não só dos homens, mas de muitas mulheres que reproduzem comportamentos machistas naturalizados”, desabafa.
San sentiu na pele a discriminação de gênero ao participar de eventos de Breaking em que as mulheres não receberam a mesma atenção e premiação que os homens, por exemplo. Mas ela não se calou. “Na maioria das vezes, as mulheres recebem menos. Inclusive, já tive briga com organizadores, porque desprezaram as B-gils, gente que não acompanha as artistas da cidade e não reconhece o trabalho. É meio difícil continuar a caminhar. Muitas mulheres são mães, têm dificuldades financeiras, no relacionamento, na família”, enumera San.
O enfrentamento das adversidades impostar às mulheres estão entre as pautas mobilizadas por Fabiana Balduína, b-girl de Brasília que desde os 18 anos, quando começou a dançar Breaking, denuncia o machismo dentro do movimento. Hoje, FaBgirl, como é mais conhecida, é um dos grandes nomes do ritmo do país. A dançarina foi a primeira brasileira a representar o Brasil no Mundial de Break Dance (Battle of The Year) We Bgirlz, na Alemanha, por dois anos seguidos. Em 2003, fundou o primeiro grupo de Breaking do Distrito Federal formado só por mulheres, que leva o nome de BSBGIRLS. Além disso, para trazer ainda mais visibilidade, elas criaram o Festival Nacional de Danças Urbanas – Batom Battle, maior evento de hip-hop da América Latina que só reúne mulheres.
Assim como Fabiana, que inspira dançarinas de todo país, San também sonha em ver o Breaking influenciando gerações futuras de meninas. “Meu sonho é ver vários B-girls na cultura”. Para isso, treina na própria comunidade, onde também ensina crianças e adolescentes a dançarem, além de atuar no Coletivo Iputinga Sócio Cultural, que desenvolve atividades de inclusão social. Atualmente, ela integra três crews de Breaking: Killa Fun Crew; Afro Soul Crew; Armeds Clowns.