Os anos trinta são marcados pela luta feminista pelo direito ao voto no Brasil, ecos de uma onda mundial, que já havia se propagado através dos movimentos sufragistas, a exemplo dos EUA. Figuras como Almerinda Farias Gama e Bertha Lutz, além de milhares de outras companheiras, estavam na linha de frente desse debate e muito insistiram para que hoje o ato de cidadania de votar e ser votada também fosse um direito às mulheres de todas as regiões do Brasil. O pensamento horizontal e sofisticado das feministas sufragistas brasileiras sugeria, já naquela época, uma capilarização da ocupação feminina nos espaços de poder, sendo a mulher protagonista de todas as etapas deste processo. Em outras palavras: era preciso votar e ser votada, seja na gestão pública ou na representação das classes trabalhadoras.
As mulheres da década de 30 abriram esse clarão num caminho nada fácil pela emancipação feminina e conseguiram ofuscar o olho opressor do patriarcado garantindo às brasileiras o pleno direito ao voto, porém esse caminho em busca da equidade de gênero na política e nos espaços de poder ainda é uma travessia com trechos pantanosos: as mulheres representam 53% do eleitorado brasileiro, porém estão ocupando apenas 17% da Câmara de Deputados e 12% no Senado. Nas últimas eleições estaduais pelo menos 38 mulheres se candidataram ao cargo de governadora mas apenas duas foram eleitas, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Já no cenário municipal as cadeiras das prefeituras são ocupadas atualmente por apenas 12% de representantes femininas num universo com mais de 5 mil municípios. Mas a luta segue, e o número de mulheres determinadas a enfrentar as desigualdades geradas pelo machismo e misoginia continua a passos firmes.
Para assistir e debater
O documentário “O Pessoal é Político”, dirigido por Vanessa de Araújo Souza traz como principal recorte temporal os anos de 1975 à 1985, época da ditadura militar no Brasil, que narra o período da segunda onda feminista no país e a importância desse momento histórico para o empoderamento feminino no processo de luta pela equidade de gênero nos espaços de poder público, como o parlamento e nas esferas privadas, a exemplo dos ambientes domésticos e familiares. Destaca-se no filme a contribuição feminina na luta armada assim como nas organizações políticas de esquerda para o enfrentamento ao regime militar. A obra conta com a participação de Heloísa Buarque de Holanda, Adélia Borges, Carla Rodrigues, Hildete Pereira Melo, Schuma Schumaher, Fátima Setubal, Anna Marina Barbara Pinheiro, Liv Sovik, Therezinha Zerbini e Jurema Werneck. O material pode ser acessado através do Canal Curta!