Nossa Voz

Especial Elas: Conheça Analu Passos, jovem monitora de projeto do Cendhec

| 5 de julho de 2023
Analu Passos integra a série de perfis em homenagem ao mês das Mulheres Negras, latinoamericanas e caribenhas. Texto: Maria Clara Monteiro. Arte: Ariel Lins

“A gente só tem a gente”. A reflexiva frase é de Analu Passos,14 anos. Jovem monitora do Projeto Teia de Proteção, que atua no bairro do Pina, ligado ao Programa Direitos da Criança e do Adolescente (DCA) do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social, Cendhec.

Aos nove anos, Analu estabeleceu moradia no Recife, vindo de Praia Grande, litoral de São Paulo, na companhia da família. Ela não acreditava que poderia fincar raízes em outro estado. “Eu nunca tinha pensado em Recife ou Pernambuco como um lugar para morar. Mas comecei a fazer parte dos projetos aqui, da comunidade, e gostei muito”, conta.

Analu ingressou no Instituto de Assistência Social Dom Campelo (IASDOC) e, a partir daí, teve acesso a outras oportunidades, como o curso oferecido pelo Cendhec. Contudo, o sentimento de justiça social sempre esteve presente em sua casa, especialmente por influência de sua mãe: “Desde cedo tive uma educação diferente. Ela me sinalizou muitas coisas que deveriam ser ditas por todas as famílias, mas nem sempre é possível. Então, me sinto muito privilegiada por ter tido isso em casa”, aponta. “Por isso é de extrema importância o que o Cendhec faz, levando informações para crianças e adolescentes de comunidades vulneráveis, para que possam saber como agir em situações de violência. E se eu posso estar junto também, acaba mudando a minha vida igualmente”, completa a estudante.

Em termos práticos, Analu é como uma ponte das informações entre a organização e o público atendido. Ela avalia e sugere as melhores formas de acessá-los para que o conhecimento seja, de fato, adquirido. “A gente repassa como os assuntos da monitoria vão ser discutidos, e eu levo minhas ideias, meu ponto de vista, de como eu acho que chega melhor nas crianças e adolescentes. Eu sou como uma linha sutil”, explica.

Luanna Cruz, psicóloga do Cendhec, está em contato direto com Analu, e a considera parceria essencial. “Sempre muito engajada, desde a participação nas oficinas. Durante a monitoria, temos investido no desenvolvimento de suas aptidões e contribuído para uma apropriação maior a respeito dos direitos de crianças e adolescentes, na teoria e na prática. A sua participação é importante na construção do curso, a partir das suas vivências e lugar de fala, que fortalece novas reflexões e espaços de ocupação”, comenta.

Analu ao lado da psicóloga do Cendhec, Luanna Cruz

A estudante relata que a aula sobre os diversos tipos de violência marcou a sua vivência nessa experiência, iniciada no começo deste ano. “Nessa oficina, explicamos a linha histórica da violência e o que é abuso e exploração. Eu pude ver as crianças realmente entendendo o que queríamos passar e fazendo perguntas sobre o tema. Foi uma troca muito legal. Foi gratificante fazer parte desse momento que, com certeza, elas vão levar para a vida”, narra. Nesse protagonismo latente, Analu Passos participou do ato em alusão ao 18 de Maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, e reverberou o sentimento de todos os presentes. Relembre o vídeo aqui.

“É muito libertador sentir que estou cultivando uma coisa boa. Nada sobre nós, sem nós”

Hoje, seus maiores sonhos estão relacionados ao estudo, está no 9° ano do ensino fundamental II da rede pública municipal de ensino. Em um futuro próximo, deseja passar no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) para concluir o ensino médio, e cultiva a vontade de ingressar no curso de Medicina, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Estamos na torcida, Analu!

Sempre consciente de seus objetivos, ela deixa a mensagem final:

“Estudem e não desistam de seus sonhos. Lembre-se que é você por você. Então, estude, viva e aprenda por você mesmo”.

Share This