Espaço delas

Coletivo Mangue Lambe: Arte e Luta

| 19 de novembro de 2021

Vídeo: Coletivo Mangue Lambe. Texto: Luana Farias/Cendhec

Conectar, resistir e ocupar. As mais de cinquenta mulheres que, de alguma maneira, são o Coletivo Manguelambe, compreendem muito bem esses termos. A organização artística “surgiu como uma necessidade nossa de demarcar nosso espaço”, pontua a artista visual Geni de Araújo, 19, mulher preta LGBT, integrante do grupo.

A pluralidade e a resistência são aspectos marcantes da conexão entre elas. O Coletivo é composto principalmente por mulheres LGBTQIA+, periféricas e multiartistas, atuantes em diferentes locais da Região Metropolitana do Recife. Estão envolvidas em diversas manifestações artísticas, individualmente ou em grupo, como: lambes, grafitagens, pinturas, desenhos e fotografias.

Majoritariamente feminino, o grupo conta com 26 pessoas na organização central, no que diz respeito às redes sociais e contatos. Além de mais de 50 mulheres as quais participam das ações nas ruas – tanto de ocupação com colagens e grafitagens, quanto de revitalização. 

Geni analisa como ponto essencial para o Coletivo, “encontrar espaço pra gente dentro dessa cena artística que acaba sendo muito branca, acaba sendo muito masculina, muito cisgênera e, além disso, muito tóxica, muito agressiva, nociva pra nós que estamos fora dessas identidades mais privilegiadas”. Incentivar e divulgar a arte de mulheres, reconhecendo o recorte racial e de classe; ocupar e revitalizar espaços urbanos; e democratizar a arte para a população geral da Região Metropolitana do Recife, são algumas das ações que revelam a essência da organização.

As conexões são resistência nos manguezais. O ecossistema que nomeia o coletivo é excelente alusão à sua natureza nas movimentações artísticas e sociais, uma vez que interferir artisticamente na paisagem da cidade as conectou a anseios em comum, apesar das diferenças. Ser porta de entrada e rede de apoio para artistas à margem. Geni fala no “desejo de ocupar espaços que não são disponíveis pra nós. A gente vai meio que de supetão, assim, entrando.”


“O que une todo mundo é essa compreensão de que arte e luta social são duas coisas que não podem andar separadas e que as nossas artes entendem isso”, Alice Portela.

Entender a rua enquanto transporte das expressões para democratizar a cidade, tem a ocupação e a identificação como iniciativa e resposta, simultaneamente. Mulher preta LGBT, a atriz e artista visual, Alice Portela, 18, fala da retomada da rua através da arte e das artistas. “Você se reconhecer como produtora dessa arte também e conhecer pessoas que fazem, reconhecer a arte da/o outra/o na rua, é uma experiência muito louca, muito interessante” explica.

Remodelar o cenário – abstrato e concreto -, através das intervenções nos muros, paredes dos prédios e tantos outros espaços, alcança a população geral – inclusive àquela que pouco tem chance de dialogar com arte, e raramente têm a oportunidade, ou incentivo, de ingressar às galerias, muitas delas fechadas.  É, também, caminho de oportunidades para as artistas enquanto produtoras. “Essa troca tem sido uma coisa muito especial. Acesso à arte já é uma coisa muito difícil e ocupar nosso mundo com nossos corpos já não é uma coisa muito fácil também. Aí eu acho que quando você pensa em ter esses espaços pra você sentir que você tá fazendo alguma coisa [pra mudar] de verdade, pelo menos, pra mim, é um respiro muito bom”, confessa Alice.

Chega junto delas! O Coletivo Manguelambe está presente ativamente no Instagram (@coletivomanguelambe), no Twitter (@manguelambe) e no Behance (Coletivo Manguelambe), portfólio com exposição de fotos das ações na rua. Cola lá!

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