Contadora de histórias pernambucana acredita na representatividade como elemento de empoderamento racial para crianças
Texto: Luana Farias
“Estela conhece o Maracatu” é o nome da história de autoria de Ashley Gouveia, que estreia na seção “Espaço Delas, do portal Afrontosas. Contadora de história e estudante de Teatro na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ashley tem 20 anos e expressa o seu fazer artístico e realiza experimentações e formas de ocupação do corpo preto por meio do teatro. Utilizando a dança, a música e artesanatos como artifícios na contação de histórias, não abre mão da magia e do fantástico, com uma narrativa que enfoca crianças racializadas.
A questão é que a atriz era bem miudinha quando começou a contar histórias. Fosse em casa, para a família, ou para as/os amigas/os, sua imaginação dava vida tanto a narrativas já existentes quanto inéditas, desenvolvidas criativamente pela menina. Ainda criança já era atriz e contadora, e nem sabia. De pequena, no entanto, apenas no tamanho, uma vez que sua imaginação ganhava o espaço, a atenção e os corações das/os ouvintes.
A criança que vive em Ashley tem, na contação de história, e em si mesma, o espaço, a voz e o reflexo, que não teve na infância. Muito embora recebesse a atenção no momento das performances, faltava identificação. “Muitas vezes eu não me associava a esses personagens que eu gostava de interpretar e gostava de criar”, relembra.
Ashley ressalta a importância em acreditar “Na força que o teatro possui, é um mecanismo muito bom da gente conseguir dar voz pras nossas causas. É muito massa conseguir utilizar desse meio pra conseguir transformar a nossa sociedade”.
Atualmente, as narrativas contadas para cada criança, de olhos e ouvidos atentos, de algum modo é, também, uma contação para si. Agora Ashley se vê. “É uma representatividade que eu não consegui ter e se eu tivesse mudaria muita coisa na minha infância, teria muito mais identificação”, explica.
Ela reconhece a importância do seu papel – ou dos seus papéis – para cada criança que pode se enxergar nela. “Eu fico muito nessa de querer contar histórias pra crianças pretas que nem eu, com o foco na negritude, porque essas personagens, que na maioria das histórias são meninas pretas, trazem também um reconhecimento pra elas”.
Os enredos de início curioso, meio aventureiro e final feliz, acompanham quase sempre a fantasia e a magia própria de quem sonha – e permite o sonho, o qual é muitas vezes negligenciado. Contos de fadas e mundos mágicos fazem parte das narrativas abrilhantadas por ela. É o momento de ser o que quiser.
A contadora comenta que o movimento de desassociar meninas do mundo fantástico e mais sutil, reafirmando a necessidade do sentimento de força e luta, tem um contexto diferente para crianças pretas, isso porque o mundo mágico já é pouco possibilitado para elas. “Já existe essa cobrança de ser forte, lutar e sofrer, a mulher preta que tá sempre ali, sendo guerreira. E às vezes a gente só quer ser princesa”. Promover o sonho e a representação é a chave das histórias.
Juntamente com Joana Botelho, Lucas Oliveira e Marcílio Ferreira, Ashley integra o coletivo Urucum, histórias da terra. Devido a pandemia, o grupo está mais ativo no virtual com vídeos disponibilizados em seu canal no YouTube. Com o intuito de alcançar às crianças além das telas e do meio online, realiza parcerias com escolas onde as contações de histórias são exibidas. O coletivo faz com que as histórias cheguem nas comunidades periféricas, com crianças em sua maioria negras.
Apoie e conheça mais das histórias fantásticas interpretadas por Ashley e o coletivo “Urucum, histórias da terra” acessando suas redes sociais e disseminando os conteúdos publicados.