A publicação é o resultado de uma oficina sobre gênero e enfrentamento ao racismo, realizada pela organização com meninas do 6° ao 9° ano de escola municipal em Três Ladeiras, Zona Rural de Igarassu. É o espelho de uma escuta aberta às potências das adolescentes.
Texto e fotos: Luana Farias

Na última sexta-feira, 6, o Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social esteve na Escola Evangelina Delgado de Albuquerque, instituição localizada em Três Ladeiras, para a devolutiva do livro “Refazendo histórias: A arte de meninas no enfrentamento ao racismo”, de coautoria de 33 meninas, entre 11 e 14 anos.
Na ocasião, cada uma das estudantes receberam um certificado de participação, uma publicação do livro, além de um kit higiene e um kit arte, como forma de estimular e apoiar seu fazer criativo. O livro também foi distribuído para a coordenação da Escola Evangelina, que o manterá disponível na biblioteca da instituição, e para a Secretaria de Educação de Igarassu.
Porta-vozes de suas lutas, as autoras destacaram a surpresa em ver seus nomes, falas e artes em um livro que, potencialmente, poderá ser o primeiro de tantos outros. É uma semente plantada num solo já fertilizado tanto pelo Cendhec, em ações anteriores, quanto pela própria escola, que estimula debates sobre gênero e raça com as estudantes.
A ligação com a instituição escolar em Três Ladeiras aconteceu por intermédio da gestora Eulália Maria, que ressaltou a importância da parceria da organização com a escola. “O Cendhec nunca largou a mão da Escola Evangelina, vocês contribuíram muito para esse fortalecimento”.



Sementes
A publicação é resultado da oficina “Nada sobre nós sem nós: reflexões sobre gênero, raça e juventudes”, realizada em agosto, e mediada pela assistente social Lorena Melo com o acompanhamento das jornalistas Alcione Ferreira, Luana Farias e Maria Clara Monteiro, do Cendhec. A iniciativa conjunta das equipes do Programa Direito à Cidade e de Comunicação do Centro, contou com o apoio da organização alemã Misereor e com a parceria da Fundação OAK, do Fundo Casa e da Secretaria de Educação de Igarassu.
“Refazendo histórias: A arte de meninas no enfrentamento ao racismo” nasceu da produção artística das jovens para um exercício proposto na oficina. Refletindo sobre as desigualdades sociais tão presentes no Brasil, e que também atravessam suas realidades, elas utilizaram a criatividade para reconstruir narrativas.
Com a análise de manchetes de jornais brasileiros, que noticiavam casos de violência racial e de gênero, as participantes propuseram um novo desfecho e uma mudança de cenário para as vítimas de cada narrativa. O livro é composto por um conteúdo que se utiliza de dispositivos como colagem, texto e desenho, com projeto gráfico, ilustração e diagramação da jornalista do Cendhec e artista visual, Alcione Ferreira.
Eloane Alexandre tem 13 anos, é estudante do 9° ano da Escola Evangelina, e enfatizou a importância da publicação servir como um anteparo.
O que eu mais gostei é que outras pessoas podem ler e se informar a partir do que fizemos. A gente não imaginava que esse exercício ia ser um livro, mas antes de colocar as informações lá, nosso grupo pesquisou na internet para garantir que a informação estivesse certa.
O material pode ser utilizado de maneiras diversas e é uma inspiração para formas de conscientização sobre o enfrentamento ao racismo para todas as idades. Levando a mensagem das meninas para outros espaços, em atividade do curso “Libélulas: Mulheres Protagonistas pela Justiça Climática”, do Cendhec, destinado a mulheres jovens e adultas do Ibura, as participantes utilizaram as histórias reescritas, presentes no livro “Refazendo histórias: A arte de meninas no enfrentamento ao racismo”, para um exercício de montagem teatral.

“Refazendo histórias: A arte de meninas no enfrentamento ao racismo” é o resultado dos olhares de meninas que reivindicam uma sociedade e um presente equitativos, justos e democráticos. Ouvi-las e valorizar suas falas, posicionamentos e criatividades, num mundo em que insiste em tentar silenciá-las, é uma das formas de mostrá-las que existe muita potência em como se colocam no mundo.
Acesse e baixe o livro completo: