A poesia de Flora Rodrigues tem como ponto de partida a Zona Norte do Recife, mais precisamente a comunidade do Arruda, onde vive desde a infância. Aos 18 anos, a artivista e comunicadora popular faz dos seus versos um ponto de encontro de vivências que narram o cotidiano de uma jovem negra, moradora de periferia que, desde os 13, provoca reflexões que contestam a estrutura social de desigualdades históricas que marcam a realidade das populações negra, quilombola e indígena.
Coordenadora da Rede Tumulto, coletivo de comunicação independente, e integrante da Articulação de Negras Jovens Feministas, Flora também é escritora e lançou seu primeiro livro virtual, “BibiZine durante a pandemia. “Foi um livro que gestei e pari durante a pandemia. Foram momentos de me revisitar. Ele fala muito sobre a minha espiritualidade, sobre como eu entendo esse meu movimentar através da minha religião e da minha fé”, conta. A publicação está disponível para venda por meio das redes sociais da jovem.
Filha de Iansã, Flora diz que busca na sua ancestralidade inspiração para os dias de luta, mas também de afeto. As violências que atravessam seu corpo não a brutalizaram e ela aposta no amor como ferramenta para promover revoluções em territórios como o bairro do Totó, onde atua por meio da Rede Tumulto, que realiza oficinas formativas com jovens da comunidade localizada na Zona Oeste do Recife.
“Eu acho que quando a gente constrói afetividade, a gente também quebra uma grande expectativa do sistema que diz que a gente não é digno de amar nem do amor, que a gente não é digno do prazer, do tesão e todas essas coisas que um corpo desfruta com sanidade”, pontua a artista. Para ela, a relação com a família, amigas/os, irmãos e irmãs de terreiro são necessárias para a manutenção de sua saúde mental.
Entre os lugares que sua poesia levou Flora a ocupar está um momento especial vivenciado em junho, durante o primeiro encontro nacional do Perifa Connection (@perifaconnection ), que aconteceu no Museu de Arte do Rio. A poeta fez a abertura da mesa “Aquilombando para adiar o fim do mundo” e foi assistida por nomes como Sueli Carneiro.
Em seu canal no YouTube ou Instagram, é possível encontrar performances poéticas que garantiram uma vaga para representar Pernambuco no Campeonato Nacional de Poesia Falada (Slam BR), em 2021. Antes, se apresentou em espaços como a histórica Batalha da Escadaria, Recital Boca no Trombone e Slam das Minas PE. Como artivista, ela também usa suas métricas para fortalecer lutas em prol do povo preto em atos de rua organizados por entidades como a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e Articulação Negra de Pernambuco.
“Eu acredito que a celebração dos meus versos é sempre pra mim algo muito grandioso independente dos lugares que ocupo ou dos espaços que meus versos me levem. Eu acredito que essa celebração acontece quando pessoas se encontram nos meus escritos, quando pessoas dizem que minha poesia arrepiou elas, quando dizem que a minha poesia fez com que elas tivessem outra cosmovisão de mundo, que a minha poesia fez com que o filho dela entendesse o que é racismo, conseguisse compreender mecanismos e tecnologias de se defender dele e se movimentar em outro formato nesse mundo”.