Texto: Lenne Ferreira | Imagens: Maria Flor
Olhos e ouvidos atentos para compreender mais sobre os efeitos do abuso e exploração sexual na vida de meninas e meninos. Os estudantes do 7º ano da Escola Oswaldo Lima, localizada no Pina, receberam as pedagogas do Centro Dom Helder Camara com muita disposição para conhecer mais sobre um tema que precisa estar presente no dia a dia das escolas. O encontro aconteceu na última quinta-feira (18) para marcar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e foi pensado pelos projetos “Na Trilha da Educação” e “Teia de Proteção”, que integram o Cendhec. Uma demonstração prática de como a união de forças entre sociedade civil e comunidade escolar podem contribuir para uma educação antissexista e ampliar o alcance de pautas urgentes.
Apesar da seriedade do tema, as pedagogas responsáveis pela condução da oficina, Paula Ferreira e Rosângela Coelho, usaram uma metodologia construtiva para envolver as/os adolescentes na atividade. Brinquedos e outros objetos ajudaram a criar um clima lúdico ao mesmo tempo em que os/as estudantes eram provocadas (os) a pensar sobre temas como machismo e violência contra mulheres e meninas, principais afetadas pela exploração sexual no mundo.
Apesar de 75% das vítimas serem do sexo feminino no Brasil, a formação também contemplou meninos, que além de sofrerem com abusos, podem se tornar futuros abusadores se não tiverem acesso a uma educação antisexista. Alguns conceitos sobre proteção e defesa de crianças e adolescentes foram apresentados, além de um vídeo que aborda os fatores que caracterizam a desigualdade de gênero e que provocam violência na vida das mulheres.
Gestora da Escola Oswaldo Lima há três anos, Elma Cavalcanti, já precisou lidar com casos de estudantes que sofreram abusos e considera que abordar o tema no ambiente educacional é uma ferramenta eficaz de enfrentamento a esse tipo de violência. “É fundamental a escola trabalhar com esse tema porque a Educação ajuda a combater a cultura machista. É um tema transversal, por isso toda disciplina pode abordar. Precisamos ensinar aos nossos estudantes que o mundo não é masculino nem feminino, o mundo precisa ser bom para todos, mas para as mulheres ele tá tendo um diferencial para pior,, por isso a escola tem o dever de trabalhar para mudar essa situação e ajudar meninas a terem mais consciência dos seus direitos para se defenderem na hora que for necessária”, pontua.
Para promover um melhor acompanhamento das/dos jovens, a unidade de ensino criou a Comissão de Proteção Escolar, que é formada por um grupo de professoras (es) que identificam crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. O objetivo é perceber sinais que indiquem algum tipo de violência doméstica como o abuso sexual para intervir e encaminhar a ou o estudante para serviços de proteção como o Conselho Tutelar.
“É preciso ter responsabilidade pedagógica para lidar com esse fenômeno, que é muito presente na vida de crianças e adolescentes para que elas possam identificar esse tipo de violência. Por meio da formação a gente apresenta uma tipificação para que elas entendam os tipos de abusos que podem estar passando e denunciem”, explica Rosângela Coelho, que atua no projeto Teia de Proteção, apoiado pela instituição alemã Kindernothilfe, que atua no bairro do Pina no sentido de combater e prevenir a exploração sexual de crianças e adolescentes.
“A mulher tem que ter liberdade, independente de qualquer coisa”. Maria Rita, 13 anos
O projeto “Na Trilha da Educação. Gênero e Políticas Públicas para Meninas”, por integrante da Rede de Ativista do Fundo Malala, Paula Ferreira, ficou responsável por apresentar a realidade de opressões que perpassam a vida das mulheres desde a infância. Por meio de um diálogo leve, a partir da escuta ativa e coletiva, as/os estudantes puderam expressar dúvidas e relatar situações que vivenciam diariamente no ambiente escolar ou em suas comunidades.
Maria Rita, 13 anos, fez questão de interagir durante toda a formação e achou importante entender mais sobre os direitos das mulheres. “Eu gostei muito porque meio que tiraram que menina não pode brincar com brinquedo de menino. Elas explicaram os direitos. A mulher tem liberdade, independente de qualquer coisa”.
O colega de turma de Maria, Wallyson Carlos, de 14 anos, contou que foi a primeira vez que ele teve contato com o tema. “Nunca tive uma experiência dessa. Aprendi muito em relação às mulheres: que elas têm os direitos iguais aos homens, de brincar, de empinar pipa. Eu sabia que tinha essa diferença, mas tô sabendo mais agora. Aprendi que deve tratar igual as mulheres. Se eu tenho direito, ela também deve ter”, comentou.
A parceria do Cendhec com escolas do bairro do Pina vai envolver outras atividades que visam promover a defesa e proteção de adolescentes da área para além do 18 de maio. Um movimento que precisa ser permanente e que só é possível em corrente e reunindo as diversas forças e agentes que compreendem a importância de construir uma sociedade que possibilite uma vida plena em direitos para crianças e adolescentes.