A representatividade de mulheres negras no parlamento brasileiro tem avançado nos últimos anos, mas ainda enfrenta desafios estruturais como o machismo e o racismo. Com o número recorde de candidatas e a persistente violência política e de gênero, a possível eleição da primeira presidente negra do Brasil em um futuro próximo destaca tanto as conquistas quanto as barreiras que a maior representante do executivo brasileiro enfrentaria.
Nas eleições de 2022, o Brasil viu um aumento considerável de mulheres negras na política, elegendo 29 deputadas federais negras, mais do que o dobro das 13 eleitas em 2018. Isso reflete um movimento crescente de inclusão e reconhecimento da importância das mulheres negras e pardas nos espaços de formulação de políticas públicas e de decisões institucionais.
Porém, junto com esses avanços, a violência política contra mulheres negras também se intensificou nos últimos tempos. Uma pesquisa do Instituto Marielle Franco revelou que 80% das candidatas negras sofreram violência virtual, 60% enfrentaram violência moral ou psicológica, e 50% foram vítimas de violência institucional. Comentários e mensagens racistas ou sexistas atingiram 18% das entrevistadas, e 8% sofreram ataques durante transmissões virtuais.
Caso uma mulher negra fosse eleita presidente do Brasil, que cenário ela enfrentaria?
A eleição da primeira presidente negra do Brasil seria um evento decisivo para a história do Brasil, não há dúvidas, marcando um progresso sem precedentes na luta pela igualdade racial e de gênero. Contudo, os desafios não seriam poucos, exigindo estratégias políticas, apoio popular, institucional e internacional, além de determinação para enfrentar e superar o racismo e machismo estruturais. Este cenário não só representaria uma vitória simbólica, mas também poderia catalisar profundas transformações na sociedade brasileira. E para alcançar tais transformações os principais desafios num horizonte próximo seriam:
1. Pressão Institucional e Política
Mesmo com avanços legislativos, a nova presidente enfrentaria oposição violenta de parlamentares conservadores e de estruturas partidárias dominadas por homens brancos. Ter apoio no parlamento para a implementação de políticas afirmativas seria um desafio contínuo.
2. Ameaças e Ataques
Mulheres negras já enfrentam as violências de toda ordem constantemente, não seria diferente com a representante máxima do executivo, com ataques pessoais, campanhas de difamação e ameaças à segurança pessoal. Casos como o atentado à co-vereadora Carolina Iara mostram a gravidade das ameaças que mulheres negras e pardas enfrentam ao ocupar espaços de poder. A que se considerar a importância de políticas para proteger e fortalecer as mulheres negras em seus cargos políticos.
3. Machismo e Racismo
Num futuro próximo ainda é possível prever que a primeira presidenta negra brasileira enfrentaria um ambiente político impregnado de machismo e racismo. A resistência viria tanto de opositores políticos quanto de segmentos ultra conservadores da sociedade diante da mudança no status quo. A violência política, já enfrentada por outras mulheres negras e pardas em cargos públicos, poderia se intensificar, incluindo ataques pessoais, campanhas de difamação, e ameaças à segurança pessoal.
Por outro lado, é bem possível vislumbrarmos, entre as ações de uma presidenta negra, as seguintes prioridades:
4. Fortalecimento de Políticas Afirmativas
Expandir e reforçar cotas raciais e de gênero em universidades e no serviço público seria uma das pautas esperadas pela primeira negra chefe do executivo. Essa é uma das grandes viradas de chave na efetivação de uma mudança estrutural e fundamental para aumentar a inclusão social e econômica.
5. Reformas na Estrutura Educacional
Investir na promoção e qualidade da educação pública nas periferias e incluir conteúdos que demarcam a história e a cultura afro-brasileira é uma das estratégias fundamentais para o enfrentamento ao racismo desde a base educacional, além de promover o acesso e permanência na educação pelas populações vulnerabilizadas. Incluir políticas educacionais em prol da equidade e diversidades de gênero e em defesa de meninas e adolescentes negras é outro ponto importante no desenvolvimento das prioridades esperadas que marcam a gestão de uma presidenta negra.
6. Enfrentamento Direto ao Racismo Institucional
Expansão dos mecanismos de denúncia e responsabilização para casos de discriminação racial dentro das instituições governamentais e políticas. Além da ampliação de leis mais severas que coibam práticas racistas em ambientes públicos e privados.